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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Conto V - Exercícios


Notícias 

Artur Oscar Lopes

Correio do Povo                         27/09/73
Informações
 Maria Joana Knijnick, solteira, procura pessoa do sexo oposto para fim de casamento. O interessado deve ser pessoa sensível, que goste de ouvir música, seja alegre, que goste de passear domingo de manhã, que goste de pescar, que goste de passear na relva úmida da manhã, que seja carinhoso, que sussurre aos meus ouvidos que me ama, que tenha bom humor, mas que também saiba chorar. Que saiba escutar o canto dos pássaros, que não se importe de dormir ao relento numa noite de lua, que saiba caminhar nas estrelas, que goste de tomar banho de chuva, que sonhe acordado e que goste muito do azul do céu. Prefere-se pessoa que saiba escutar os segredos de um riacho e que não ligue aos marulhos do mar; que goste de bife com arroz e feijão, mas que prefira peru com maçã, dá-se preferência a pessoas de pés quentes, que gostem de andar de barco, que gostem de amar e que não puxem as cobertas de noite. Não se exige que seja rico, de boa aparência, que entenda Kafka ou saiba consertar eletrodomésticos mas exige-se principalmente que goste de oferecer flores de vez em quando.
End.: - Rua da Esperança, 43

Correio do Povo                         02/10/73
Informações
 Maria Joana Knijnick, solteira, procura pessoa do sexo oposto para fim de casamento. O interessado deverá ser pessoa sensível e que tenha o hábito de oferecer flores.
End.: - Rua da Esperança, 43

Correio do Povo                         10/10/73
Informações
 Maria Joana Knijnick procura pessoa que a ame e goste de oferecer flores de vez em quando.
End.: Rua da Esperança, 43

Correio do Povo                         20/10/73
Informações
Maria Joana Knijnick pede que qualquer pessoa goste dela e suplica que lhe mande flores.

Correio do Povo                         14/11/73
Informações
 A família da sempre lembrada Maria Joana Knijnick comunica o trágico desaparecimento daquele ente querido e convida os amigos para o ato de sepultamento. Pede-se não enviar flores.

  1. A história que você acabou de ler é um conto, que se apresenta dividido em cinco partes. Ele tem uma estrutura diferente dos contos tradicionais, pois se apropria da estrutura de outros gêneros textuais.
    1. Que gênero é utilizado nas quatro primeiras partes do texto?
    2. Que características especificas desse gênero estão presentes nessas partes do conto?
    3. Observe a última parte do conto e responda: Qual é o gênero textual a que essa parte se assemelha?
  2. Cada parte do conto tem relação com um momento especifico. De que forma é marcada a passagem do tempo?
  3. Compare a primeira frase as demais frases da primeira parte do conto.
    1. De que modo Maria Joana anuncia sua intenção na primeira frase?
    2. De que tipo de características esperadas no objeto procurado e em que tipo de linguagem elas estão expressas?
  4. A primeira parte do texto é mais longa do que as outras, e as características esperadas na pessoa procurada são muitas.
    1. Por que as partes seguintes vão se tornando cada vez mais sintéticas?
    2. O que a sucessão dos textos revela quanto ao estado emocional da personagem?  
  5. O comunicado final da família fala em “trágico desaparecimento”.
    1. O que é possível deduzir do uso desse adjetivo?
    2. Dê uma interpretação coerente à última frase do conto. 

Conto IV - Exercícios


O carneirinho do presépio
José Faria Nunes

O menino observa as pessoas que saem e volta-se para o presépio. Examina-o com interesse. Na missa ouviu que o reino dos céus é das crianças.
Tempestade mental. Se é das crianças o céu e viver no céu é ser feliz, então a felicidade é das crianças.
Olha o presépio. O boi. O carneirinho. Os astrônomos que foram chamados reis — os reis magos. A estrela. Tudo bonito. Tudo. Enamora-se. Bem que queria um desses. O carneirinho. Só o carneirinho. O Menino Jesus, esse não. Tem que ficar no presépio. Presépio sem Menino Jesus não é presépio. O carneirinho, esse sim. Há outros no presépio. Não tivera Natal em casa. Nunca. Não conhece Papai Noel. “Será que Papai Noel me conhece? Sabe de minha existência?”
Na sua frente, o carneirinho cresce, apequena, atrai. Por que o padre falou que o céu é das crianças?
Não ganhou brinquedo e quer o carneirinho. Será pecado? O que é pecado? Para que pecado? Se é verdade que Deus ama a gente, por que ele deixou a cobra dar a maçã para Eva e Eva para Adão para depois todo mundo ter pecado?
Ele quer o carneirinho. Todos já se foram. Ninguém vê. O Cristo, crucificado, parece dormir de cansaço e de dor na cruz, na parede, lá atrás do altar. Parece não se importar com nada ali na igreja. Coitadinho de Cristo. Sofreu muito. Mas por que, se ele é Deus? Ou ele é apenas o Filho de Deus? Se é filho não é pai e se Deus é pai não é filho?!
Coitadinho de Cristo! O padre falou que Cristo sofreu para o perdão dos pecados. Não sei não. Acho que Cristo não sofreu por mim não. Papai Noel não me conhece. Será que Cristo me conhece?!
Esfrega as mãos, nervoso. A decisão. Ergue o braço, mas o gesto fica suspenso no ar com a chegada do vigário que vem fechar a igreja. Para disfarçar a intenção, limpa com o dedinho o espelho que forma o lago nas proximidades da gruta de Belém. Por que presépio em forma de gruta? Cristo nasceu não foi num ranchinho, na estrebaria, casa de animais?
— O Sinhore vai fechá a igreja? — Pergunta ao padre que fecha a primeira porta.
— Estou fechando — Responde o padre, em seu sotaque de estrangeiro, não com aquele carinho com que falou na missa da meia-noite.
— O presepe tá bunito, né? — insiste o menino, tentando coragem para pedir o carneirinho.
— Você acha? — o padre fala indiferente e o menino entende que o vigário não está interessado naquele diálogo, quase monólogo.
— Acho — termina o menino, desconcertado, infeliz. Percebe que de nada adiantará insistir. Não vai ganhar o presente.
Absorto nos sonhos, fica a olhar o presépio sem nada ver.
“Como eu queria um carneirinho desse!”
E o vigário o acorda para a realidade:
— Vamos embora, dormir?
— Vamo.
Volta-se e ainda dirige um último olhar para o carneirinho do presépio, um ente querido que talvez jamais voltará a ver. O padre fecha a última porta e se vai.
O menino, agora com medo, corre debaixo da madrugada em direção ao aconchego que o espera debaixo da ponte, onde se juntará aos pais e aos cinco irmãos menores. Dormem. Não veem a fome, não sentem nenhum desejo. Enquanto dormem, os sentidos nada reclamam. Ele sonha com o presente de Natal que não ganhou: o carneirinho do presépio.

  1. O texto acima é um conto. O conto pertence ao gênero dos gêneros narrativos ficcionais. Os textos narrativos apresentam alguns elementos em comum, como fatos, personagens, tempo, espaço, narrador. No conto lido:
    1. Quais são as personagens envolvidas na história?
    2. Onde acontece os fatos narrados?
    3. No conto, os fatos são narrados em sequência temporal e mantem entre si relação de causa e efeito. Por exemplo: o menino decide pegar o carneirinho, mas, quando ergue o braço para pega-lo o padre entra. O menino, então, disfarça, limpando como dedo o espelho que forma o lago do presépio. Cite outros fatos do texto dispostos em sequência temporal e ligados a uma relação de causa e efeito.
    4. Em que época acontecem os fatos narrados? Em que lugar?
  2. No conto em estudo, os fatos narrados são vividos pelo menino e pelo padre.
    1. Levante hipóteses: por que essas pessoas não tem nome?
    2. As personagens podem ser caracterizadas física e psicologicamente. Como é o menino? E o padre?
  3. Releia os três primeiros parágrafos do texto e responda: Em que trecho a narrativa começa a criar expectativa para o leitor?
  4. O menino quer o carneirinho do presépio e pensa no que ouviu na missa
    1. Por que ele não quer o Menino Jesus?
    2. Que tipo de discurso o narrador emprega para apresentar o pensamento do menino?
    3. Qual é o momento de maior tensão no texto?
  5. O conto em estudo narra uma história que pode ser real e vivida por muitas crianças que desejam algo, mas não o tem. Na sua opinião, o menino do conto teria cometido um crime se furtasse o carneirinho do presépio? Justifique sua resposta.